Entrevista
- pexbaA
Por Alemar Rena e Pedro Araújo

Iconoclastia.
Atonalismo. Experimentalismo. Coragem. Diversão. Liberdade total de criação.
Fuga dos padrões da música pop. Ou da música. Poderíamos seguir em frente
tentando definir o pexbaA em palavras, mas ficaríamos sempre no meio do
caminho. Vamos começar então apresentando a vocês um pouco da história
da banda.
João
Marcelo [baixo], Rossano [voz, trumpete], Rodrigo [bateria] e Rodrigo
Lobão [guitarra, violão] são os remanescentes da última formação do Holocausto,
banda que respondia por um som "metal" nos seus primórdios, mas que teve
mudanças de linha durante seu tempo de vida. O Holocausto passou pelo
Metal, Punk, Hard Core, até chegar ao experimentalismo presente no último
disco que a banda gravou ["Tozago as Deismo"], disco este que foi uma
espécie de prévia do que se tornaria o pexbaA.
A banda lançou há alguns meses seu disco de estréia ["pexbaA"]. O
tempo gasto no projeto [dois anos] explica o cuidado que a banda pôde
ter com a qualidade e a complexidade de sons que se percebe nas músicas.
Nada na música do pexbaA é gratuito ou pré-definido. Ouvimos faixas com
a tríade baixo-guitarra-bateria, músicas criadas a partir de sons executados
ao contrário ou a partir colagens de sons e ruídos vocais, pianos "roboticamente
virtuosos", tudo pontuado por trumpetes ocasionais e, principalmente,
um tratamento especial que o pexbaA dá às letras das músicas. E ainda
adicionado às maravilhas que uma gravação e edição não line- ar podem
fazer.
Eles
estão atualmente em estágio de preparo de um novo show e de criação da
home page para a banda. Tendo tocado em casas de show belorizontinas como
A Obra e Matrix, mais o evento Eletrônika, ocorrido em fins de 99 na Serraria
Souza Pinto, o pexbaA pretende também começar a divulgar o disco e fazer
shows em outros estados. E, paralelamente a isso, seus componentes tocam
adiante outras atividades, como a banda Catarse Century X3 e participações
em trabalhos artísticos diversos [como a trilha sonora para o curta de
animação Chat Room, dos irmãos Pedro e Paulo Vilela].
O
pexbaA sabe que está pisando em terreno pantanoso, onde o retorno de público
não vem fácil, a grana é sempre pouca e a trabalheira com shows é enorme,
mas não faz disso uma cruzada contra a pasmaceira atual da música pop.
Os caras estão fazendo o que querem. E é só isso. Confira na entrevista
a seguir.
Entrevista
F:
O disco é muito bem cuidado, inclusive tecnicamente falando. Como a banda
conseguiu este resultado?
João:
Tempo de estúdio. A gente levou dois anos para gravar este disco, horas
e horas gravando.
Rossano:
E é interessante, porque ainda assim perdemos metade das gravações, quatro
meses de trabalho, o HD nosso queimou e a gente não tinha backup. E a
gente foi aprendendo a operar os equipamentos paralelamente às gravações,
a gente apanhou pra caramba enquanto gravava.
João:
O estúdio não é o ideal, mas pelo menos a gente tinha a liberdade de tempo,
não poderíamos ter este grau de cuidado em um estúdio que não fosse nosso,
gastaríamos muito dinheiro.
F:
Com esta experiência adquirida, vocês produziriam o trabalho de alguma
outra banda?
João:
Eu acho isso complicado. É muita responsabilidade você direcionar o trabalho
de outra pessoa. Poderia até acontecer, mas no caso da gente, por exemplo,
nós produzimos tudo, decidimos como seria a capa, etc, se desse errado
seria nossa responsabilidade
Rossano:
Pode até acontecer de se usar alguma pessoa que tenha um conhecimento
técnico, de equipamentos, maior do que o nosso, que ajude a gente a alcançar
o que queremos. Mais um engenheiro de estúdios do que um produtor musical.
João:
E é meio complicada esta história porque os caras bons daqui meio que
se impõem, ou você faz do jeito deles ou eles te fecham a cara.
Rossano:
E os discos produzidos por eles acabam ficando muito iguais...
F: E a distribuição, como está sendo? Este é um dos problemas de um disco
independente...
Rossano:
Algumas pessoas conheceram o som da banda, mandam e-mail pedindo o disco.
Aí a gente vai conhecendo outras pessoas através deste pessoal, então
mandamos os CD’s para serem vendidos por consignação. Tem muita gente
vendendo discos também em shows... Sempre tem um curioso com a banda,
na Motor Music tem vendido bem. O ritmo das coisas é lento, mas vai acontecendo.
A gente tem vendido mais do que no tempo da Cogumelo, com o disco Tozago,
do Holocausto. O que é legal, hoje nós temos muito mais controle sobre
o processo de venda...
F:
Como está sendo a divulgação do disco?
Rossano:
A gente só fez os shows em Belo Horizonte. Aqui é pequeno, já fizemos
a divulgação possível. Agora a gente vai começar a ver os outros estados.
Tem um pessoal do Rio Grande do Sul, do Rio, Goiânia, Brasília e São Paulo
que já esta sabendo, já escutou o disco. Aparece um pessoal que a gente
não conhece pedindo pra mandar CD para vender nas lojas deles... Já imprensa
a gente vai procurar quando estiver para tocar nestes lugares.
F:
Vocês acham que as pessoas estão apreciando, entendendo o som deste disco?
Rossano:
Eu acho que existe uma coisa: hoje em dia no Brasil está muito na moda
fazer som com elementos de raiz brasileiros. Então, por exemplo, quando
tocamos no Eletrônika , a gente deu um cd pro Tom Zé e pro Otto. As pessoas
falam muito de Tom Zé, Otto, Mestre Ambrósio, mas não é muito do interesse
deles este tipo de música que foge das referências brasileiras. Mas esta
coisa de distribuir o disco para estas pessoas é muito mais para divulgar
o trabalho. A gente nunca teve preocupação em retorno, em ter um respaldo
desse pessoal.
F:
O pexbaA usa recursos como o sequencer para obter no palco sons de instrumentos
e efeitos adicionais, além de recursos como a projeção de imagens e animações.
Existem pessoas ajudando nestes aspectos, algum tipo de equipe?
João:
Não temos ninguém fixo. A gente chama os amigos, alguém que possa ajudar.
É muito difícil, teria que ser uma pessoa bem ligada à banda, quase como
um membro. Não temos estrutura para isso. No caso das partes seqüenciadas,
nós acionamos o CD no início de cada música.
F:
Então, o que se escuta com o pexbaA não é mera improvisação de palco,
existe um script a ser seguido.
João:
A gente improvisa em uns vinte por cento das músicas para não ficar sempre
muito igual já que a gente usa o recurso do sequencer. A gente tem bases
gravadas com arranjos diferentes para as músicas, normalmente umas três
para cada música. É possível fazer o show exatamente como o disco, mas
preferimos sempre variar um pouco.
F:
E, apesar do som parecer caótico, cada música segue uma linha lógica.
Existe alguma preocupação com o direcionamento do tipo de música, algum
conceito a ser seguido?
João:
Se existe algum conceito, seria o "não-conceito". A gente não tem muita
consciência do que está criando, o resultado não é pensado. Não existe
em nenhum momento um conceito a ser seguido, e tem muita coisa simples,
principalmente o baixo e a bateria, e os outros instrumentos e sons são
como uma "costura" do restante da música.
F:
O som do pexbaA seria um som de impossibilidades, porém como uma nova
possibilidade dentro do que se produz de novo atualmente, como a música
eletrônica?
João:
A gente acredita muito no que faz mas não se encaixa muito nem gosta de
dizer que fazemos música eletrônica. Usamos o recurso da eletrônica muito
mais para suprir a falta de estrutura para ter outros instrumentos como
um xilofone e ter músicos contratados ou convidados para tocá-los.
F:
Então, se vocês pudessem teriam este adicional de instrumentos e músicos...
Rodrigo:
Sim, um percussionista, um pianista, para tocar de acordo com os arranjos,
já que é tudo escrito...
F:
Isso é importante. Então vocês têm uma educação mais formal como músicos...
Rodrigo:
Eu, o Rossano e o Lobão lemos música, não temos dificuldade quanto a isso.
O fato de escrevermos as músicas é mais um recurso que temos à mão. Isso
nos ajuda muito.
F:
Ajuda no processo de criação das músicas?
Marcelo:
Não. Neste caso o gravador é mais útil. Gravamos em fita as sessões de
improviso. Depois vamos peneirando o resultado, editando o que fica bom.
O resultado final é que é escrito. Mas é um processo totalmente livre,
sem direção imposta.
F:
Já a criação das letras tem um processo que burla totalmente as normas,
certo? Como é este processo?
Rossano:
As palavras são montadas por sorteio com dado de sílabas que a gente montou
por combinação das letras do alfabeto. Aí a gente vai montando as frases.
Mas às vezes dá preguiça e a gente pega frases e monta ao contrário...
F:
Pode-se dizer então que o vocal é usado mais como um instrumento adicional
do que um transmissor de mensagens?
Rossano:
Exatamente, mas ele funciona também pelo seguinte: Quando a música não
tem um significado explícito nas letras, ela tem um significado particular
para cada um, você imagina alguma coisa pelo timbre da voz, pelo ritmo.
Como quando você não sabe inglês e escuta alguma música com letra em inglês.
A música com letra, querendo ou não, ela te leva a uma determinada expressão
dependendo da letra. Quando não tem letra é mais ou menos a expressão
que você quiser.
F: O que vocês escutam tem alguma influência específica no som da banda?
João:
O que escutamos sempre influencia o que fazemos, você acaba assimilando
isso. Mas não é nada específico, a gente escuta de tudo, na verdade.
F:
O som do Holocausto no início não reflete o que é o pexbaA hoje, certo?
O que houve foi uma evolução?
Rossano:
É, mas tem o seguinte: a música Hard Core está presente desde o começo,
desde quando as pessoas que estão no pexbaA hoje não eram do holocausto
sempre houve a influência do Punk e do Hard Core. Claro que hoje de um
modo diferente.
F:
Houve um estranhamento do público que seguia o início do Holocausto para
o tipo de som que a banda passou a fazer? Vocês se preocupavam com esta
possibilidade?
Rossano:
Houve estranhamento, mas quem gostava do Holocausto do segundo disco em
diante já iria saber que o próximo disco seria totalmente diferente do
anterior, o Holocausto nunca quis fazer um mesmo tipo de música sempre,
seguir sempre a mesma linha.
F:
E, em longo prazo, vocês têm algum objetivo traçado para a carreira do
pexbaA, ou para os componentes da banda?
João:
Gostaríamos pelo menos de poder viver disso. Não necessariamente ganhar
dinheiro, mas também não precisar ter algum outro emprego. Poder ficar
mais tempo à disposição para experimentar. No Brasil isso é meio impossível...
Rossano:
Mas também o fato de tentar ganhar dinheiro com a banda não é o que motiva
a gente.
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